quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Um mês


Mal as coisas começaram a se acertar e já se passou um mês que chegamos. Os montes de coisas pra resolver não acabaram. Mas os nós estão se desatando com menos dificuldade. Com um mês já dá pra entender como as coisas funcionam, até porque as coisas não diferenciam muito do Brasil. Seja uma ligação de luz que precise de mais de vinte telefonemas pra que no final sempre falte mais uma pra terminar de resolver tudo, ou a ligação de gás que ele confirmam estar ligado e por não estar querem cobrar uma visita de urgência.
Nesse mês conheci vários franceses, bolivianos, peruanos, tunisianos, indianos, suíços e brasileiros. Gosto muito dessa multinacionalidade parece que o mundo fica um pouco menorzinho. A fama do francês mal-humorado foi deixada de lado, talvez eu tenha dado sorte, mas só os franceses gente boa cruzaram meu caminho até agora. Talvez melhor do que saber a língua, um bom sorriso para facilitar muitas coisas.
E quanto a frio, achei que realmente seria pior (talvez piore), mas o 0 °C não é tão assustador quanto imaginei.  Como os lugares são feitos pra aguentar o frio, com vidros duplos, carpetes entre outras coisas e os aquecedores costumam estar sempre ligados o frio não chega a se tornar insuportável. Até mesmo na rua se protegendo devidamente (claro!) o frio é completamente suportável sendo muitas vezes até agradável, posso dizer agora com conhecimento de causa que prefiro o frio ao calor, pelo menos o frio  sempre tem solução. 
Sabe aquela história que comida francesa é comida pouca? é o maior absurdo dos mitos sobre a França. Um verdadeiro jantar francês pode durar horas de pura comilança, já que ele é dividido em várias partes: Tira-gosto, entrada, prato principal, prato de queijos, sobremesa e, finalmente, o cafezinho. Isso sempre acompanhado de pães na maioria das etapas. 
As comidas me surpreenderam muito. Todos os derivados de leite são impressionantemente saborosos, vou precisar de todo o tempo pra experimentar todos os queijos que a França tem pra me oferecer, e vou aproveitar esse tempo pra isso também. O pão também é bem diferenciado, eles realmente sabem fazer pão e comê-lo também, as pessoas costumam comer baguetes inteiras andando pela rua, e ele faz parte da grande maioria das refeições e sempre finalizando a limpadinha no prato. As bebidas também ganham destaque. Sidra (cidre), champagne, vinho sempre estão presentes quase que diariamente. Ainda não posso falar do que gosto realmente, ainda não bebi nada que eu não gostasse. E posso incluir as cervejas nessa lista, mesmo não sendo bons produtores, são bons importadores. 
Enfim, são inúmeras pequenas descobertas que vão acontecendo diariamente. E devagar vamos sendo tomados por novos hábitos. Um deles que me chamou atenção e o de tirar os sapatos e entrar de meia nas casas, achava que isso era dos orientais, mas é um tanto comum por aqui.
E assim o aprendizado continua...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Lille

Nada melhor que visitar uma amiga. Ainda mais quando essa amiga é de infância e já passou por tudo que você está passando recentemente. Assim que me mudei pra Orsay, recebi uma mensagem dela me chamando pra vim pra Lille, pois no fim de semana ia ser o aniversário do marido dela entre outras coisas.
A falta de internet, telefone, tv e aquecedor fez com que essa proposta parecesse irrecusável. Jânio me incentivou já que passaria muito tempo em casa sozinha. Felizmente, a questão do aquecedor foi resolvida antes de eu viajar,e todo o resto foi providenciado depois.
O fim de semana foi bem legal , cheio de reuniões, de amigos e de famílias e é até bom está imersa na língua francesa, com uma tradutora do lado sempre que necessário. Intenso aprendizado de hábitos, comidas, curiosidades francesas e até sobre a comida brasileira. Aprendi a fazer moqueca de camarão e pão de queijo, além de coisas que eu olhava no supermercado e não sabia o que era e agora farão parte das minhas compras.
Sei que foi um bom momento pra vim, não imaginava que essa semana que antecede o Natal fosse me deixar tão sensível e a saudade mais intensa. E estar num ambiente mais familiar deixa as coisas mais fáceis. Fora que a cidade é linda, com um pessoal muito simpático e bem pertinho da Bélgica.
Ah! E nada de nevar. Parece que vim pra aquecer a França já que o ano passado nevou desde novembro. Esperando ansiosamente.


                                                                 A bela Lille no Natal.





                                               Cerveja, vinho e  imagem e ação bilingue
                                         
                                                                    Pelas ruas de Lille

domingo, 11 de dezembro de 2011

Mudanças




Desde que me formei, em agosto, estou numa vida meio provisória. Primeiro esperando o dia da viagem, que foi passando de setembro, pra outubro e que ocorreu no final de novembro. E desde que chegamos  estamos num aparthotel em Èvry. Não que o apart seja desconfortável ou coisa assim, mas morar num hotel deixa as coisas com clima de temporariedade. O departamento que Jânio está estudando vai mudar de cidade ano que vem e não sabíamos se era melhor procurar um apartamento em Evry ou em Orsay.  Mas assim que aprendemos a nos virar em Évry , começamos a pensar em ficar por aqui e ano que vem nos mudaríamos. Mas, conversando com a orientadora de Jânio foi aconselhado que nos mudássemos logo. Já que os contratos de aluguel são um pouco longos e a viagem de uma cidade pra outra diariamente seria muito cansativa. E, antes da mudança, veria uma forma de Jânio precisar ir menos a universidade.
Achamos uma casa relativamente perto de onde será o departamento, com o preço acessível e depois de algumas indas e vindas a Orsay foi fechado o contrato. Isso tudo foi feito por Jânio, então não tenho idéia de como é a casa ainda.  E nesse meio tempo já encontrei um curso de Francês da Science Accueil por lá. Ainda não tinha encontrado aqui, o curso de baixo custo da Maison de Quartier tinha sido cancelado e o da Science Accueil Èvry ainda não tinha sido confirmado por falta de inscritos. Acabou que a mudança teve mais um ponto positivo.
Amanhã será o dia da mudança, e por isso ficarei fora de área por um tempo, até que a instalação da internet  seja feita na nova casa. Pensar em ficar tanto tempo sem desconectada  causa um grande desconforto, deve ser assim que os viciados devem se sentir. Mas creio que esse período de desintoxicação será bem proveitoso.
E no momento estou no meio de mais uma arrumação pra próxima mudança. Esse ano veio cheio delas :).

Câmbio desligo! 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Brasilidade



Um dos conselhos que eu recebi antes de chegar foi :  de não manter amizade só com brasileiros. Não sei se não ir pra show de artistas brasileiros está incluído nisso tudo.  Ontem fomos para o show de Tulipa Ruiz em Paris. Com alguns contratempos, o fato do show ter sido numa ruazinha quase não localizável no mapa, o que levou quase 1 hora para encontrá-la, e a correria pra sair antes que o último trem saísse,( já que infelizmente não moramos em Paris.) Mas o fato que valeu a pena, não foi um super show em números de pessoas, tinham umas 70 pessoas por lá e sem dúvida com grande parte de brasileiros. Porém, além de eu achar a voz dela fantástica e com músicas bem gostosas de ouvir, todo o ambiente tinha uma atmosfera familiar, pessoas sorridentes, com idioma conhecido e as brincadeiras com a língua francesa no palco.
Não condeno os brasileiros que  não seguem o conselho a risca. Pois é muito mais fácil tentar manter uma relação com pessoas que já se sabe ter algo em comum, nem que seja só a Pátria e a língua. Já que você conhece seus hábitos e não vai se encher de dedos por parecer invasivo demais.
Eu pretendo seguir o conselho, já que ele faz todo sentido pra mim. Na minha concepção é fundamental para a  fase de adaptação, e para provar  todas as experiências que esses três anos podem trazer. Mas confesso que de início não parece fácil. O fato é que eu mal sei como começar  uma amizade, já que a maioria dos meus amigos vêm de longa data. E não dá pra chegar no meio da rua e pergutar: "Ei, vamos ser amigos?". Sei que quando começar a ter uma rotina  por aqui de cursos e esporte ficará bem mais fácil.
Mas quem prefere ficar no: "ei, sou brasileiro também".  Como já aconteceu comigo por aqui. Isso traz um ar de proteção e conforto, do tipo, não sou extraterrestre sozinho.

 Em homenagem ao ótimo show de ontem, vou postar uma parte do show com minha música preferida.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Tem um trocado?


Diferente do Brasil, aqui na França moeda é dinheiro. Não que valha menos lá, mas quantas vezes a gente perde, ignora e, às vezes, até tem raiva quando recebe um troco razoavelmente grande em moedas? Aqui não dá pra viver sem elas: café, refrigerante, almoço, chocolate, absorvente, barbeador e mais um pouco pode ser comprado em máquinas espalhadas pela cidade (que funcionam exclusivamente com moedas). Aqui em Evry-Courcouronnes (a estação de trem perto de onde estou) só é possível comprar bilhetes com cartão de crédito ou moedas. Máquinas de lavar, secar, jogos de sinuca, dardos... tudo isso tem aqui no hotel, à base de moedas, é claro. Mais importante ainda, se você vai bater perna por aí, quase todo banheiro público é pago (adivinha como...).



Além de serem extremamente úteis, não adianta ficar juntando somente as grandes. As máquinas são seletivas, algumas só funcionam com moedas específicas (como a máquina de secar daqui, que só aceita moedas de 20cents ou 1euro), por isso, ter várias opções no bolso é sempre importante. Aqui (até agora) as lojas sempre têm troco, até aquele 1 centavo que a gente normalmente deixa pra lá, o que facilita muito a obtenção das (tão preciosas) moedas.

Mas, mesmo assim, me peguei parado em frente à porta da estação sem poder entrar e o jeito foi parar alguém na rua e perguntar: "moço, tem trocado?"

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Primeiras semanas


Após duas semanas em terras alheias, empolgação amansada e as coisas começam  a se tornar mais parecido com a vida real. Começa a busca por um apartamento, afinal, temos que começar a construir nossa vida e tirar as coisas que ainda continuam dentro das malas. Procurar apartamento não é fácil em nenhum lugar do mundo, são muitas coisas a se preocupar: Localização, conforto, praticidade  e, o mais importante de todos, o preço. Sendo a ansiedade em pessoa e não conseguindo resolver nada sozinha, já que aqui não tenho o domínio da língua, perco assim o poder da comunicação e consequentemente da  negociação. 
As dificuldades são inúmeras, não devido aos hábitos, ou diferenças de costumes. Na verdade pouco observei sobre isso, acho até as coisas um tanto parecidas. No caso, o desconhecimento da língua me traz uma sensação de incapacidade para inúmeras coisas, principalmente por ser uma grande usuária da comunicação verbal, me sinto extremamente limitada. Mas isso era mais do que esperado, no momento a solução é tentar acostumar o ouvido e estudar sozinha. Já que as aulas só começam lá pra fevereiro. Então a adaptação está começando, e o início é sempre mais difícil. Fora a saudade que insiste em ficar.

Mas pra deixar as coisas mais descontraídas, vou publicar uma poesia que recebi de um querido amigo e me fez chorar (de rir), não precisa saber francês pra entendê-la (ou talvez precise ter uma noção) se chama "Je ma pele e tu savá?"

Je ma pele e tu savá? 

hummm... Je ma pele... 
je ma pele is trê lisa... 
je ma pele is trê noire... 
ma pele is trê joli avec mua! 

e tu? savá come tuta pele está?


                                                MOLINA, Lucas (dezembro, 2011)
        (Pra saber mais sobre o autor clique aqui)